São Paulo, 27 - O aumento da participação da Vale no segmento de matéria-prima para produção de fertilizantes é considerado por especialistas do setor um grande avanço na cadeira produtiva. "Com a assinatura de um contrato, o setor avançou dez anos", afirma a consultora Elizabeth Chagas, da EC Consultoria. Segundo ela, a companhia agrega dois fatores de peso ao setor: boa infraestrutura logística e grande capacidade de investimento.
"O setor precisa de grandes investimentos. Não pode depender da importação de 65% da matéria-prima.
A Vale poderá fazer joint ventures no exterior e ainda ampliar os investimentos internos", afirma Elizabeth. Ela reconhece que a expansão dos investimentos depende da participação do governo, especialmente, na garantia do fornecimento de gás a preços competitivos, mas considera que a Vale tem um peso maior para negociar do que outras indústrias, como a própria Bunge, Fosfertil e Ultrafertil.
Uma fonte ligada à indústria destaca que a Vale é forte em logística. "Haverá uma grande sinergia com a área logística, porque a companhia poderá utilizar seus próprios ramais ferroviários, para transportar a matéria-prima, inclusive com frete de retorno", diz. A Vale administra hoje a Estrada de Ferro Carajás (EFC), a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) e a Ferrovia Centro-Atlântica, com 10 mil km de malha ferroviária. Além de cinco terminais portuários, em Vitória, Sergipe e Maranhão, e um terminal rodoferroviários, de acordo com informações do site da companhia.
A consultora Elizabeth acrescenta que a participação da empresa poderá até mudar o ritmo das conversas sobre o marco regulatório, que irá determinar regras para concessão e exploração de jazidas no Brasil, incluindo minerais utilizados na produção de matéria-prima para fertilizantes. Ela avalia que esta expansão trará mais competitividade para o setor, uma vez que a Bunge hoje domina 33% deste mercado, atuando tanto em mineração como na venda do produto final.
Outro fator positivo, segundo ela, é que a aquisição deixou espaço para que as duas empresas mantenham o foco em sua principal atividade. A Bunge não deixará de atuar no segmento, mas concentrará a atividade na mistura do produto final, distribuição e mercado.
"Isso é muito bom, porque ela conhece o consumidor na ponta final e está melhor preparada para atuar com o produtor", afirma. Em contrapartida, a Vale reforça sua participação em mineração. A empresa já comercializa potássio, explorado na mina de Sergipe, e agora atuará nos segmentos de fosfatados e nitrogenados.
O anúncio de hoje reforça o sentimento do mercado de que a Vale caminha para atuar como grande player neste segmento. No ano passado, a companhia adquiriu 100% dos projetos da Rio Tinto na Argentina e no Canadá. A Vale informou ter celebrado, por meio de sua subsidiária Mineração Naque, contratos de opção de compra e venda de ações de emissão da Fertifos Administração e Participações S.A. (Fertifos). Segundo a fonte ligada à indústria, a entrada da Vale acaba com a briga entre a Bunge e os sócios minoritários Mosaic e Yara.
Consultadas sobre a aquisição da Vale, a Mosaic informou que não comentará o assunto neste momento e a Yara não respondeu ao pedido de entrevista. (Fabíola Gomes). |